A Geografia primitiva
Os homens da Pré-História faziam análises do meio em que viviam e marcavam pontos de referência, elementos do ambiente que se destacam como uma árvore, um rio, uma montanha, uma rocha. Já que eram nômades, caçadores e coletores, era importante conhecer o espaço para encontrar com mais facilidade alimentos, água e abrigo.
Ao analisar o ambiente, fazer marcações e descrições, os povos nativos desenvolveram a Geografia primitiva. Para guardar tais conhecimentos e transmiti-los, também, desenvolveram a linguagem geográfica, a Cartografia.
No início, a Cartografia era composta por desenhos, restos deixados pelos nativos e trilhas abertas no meio da vegetação. Algumas dessas marcas existem até hoje, como as pinturas rupestres em várias partes do mundo, os sambaquis, montes de conchas, ossos, rochas e restos de plantas, encontrados no litoral sul do Brasil e o caminho do Peabiru, uma trilha que vai de São Vicente (SP) até Cuzco, no Peru, com vários ramais.
Com o sedentarismo do homem, a Cartografia foi aprimorada, e passou a ser confeccionada com materiais da natureza, como bambu, conchas, argila e rochas.
Muitas dessas representações resistiram ao tempo como o mapa primitivo das Ilhas Marshall (3200 a. C) que, usando tiras de fibras vegetais e conchas, os nativos descreveram as correntes marítimas e as ilhas do arquipélago ao norte da Austrália. Outro mapa bem antigo é o mapa de Ga-Sur (2200 a. C. a 2400 a. C), uma placa de argila, feita pelos babilônicos, representando parte da região da Mesopotâmia, provavelmente o rio Eufrates.
O espaço geográfico
É o objeto de estudo da Geografia e consiste no espaço natural modificado pelo homem, descreve como o homem se relaciona com o meio em que vive. É uma relação que pode ser harmônica, como uma hidrelétrica que produz energia, ou desarmônica, como uma barragem de rejeitos de minérios que se rompeu. O espaço geográfico é dinâmico e está sempre em transformação. Nele encontraremos elementos naturais e elementos humanizados (antrópicos ou culturais). O espaço geográfico é dividido e classificado de acordo com as características que apresenta. Assim temos as categorias: lugar, território, região e paisagem.
Lugar
É a relação de afetividade com o espaço, quando se tem familiaridade. Pode-se usar como exemplo a casa da avó que se visitava quando criança, um hospital em que se ficou internado por algum tempo.
Território
É um espaço delimitado por uma fronteira, tem um governo soberano e é regido por leis. Temos como exemplos de territórios um país, uma área dominada pelo crime organizado ou uma área indígena.
Região
É o espaço dividido por critérios. Assim, regionalizar facilita a administração ou um estudo. É possível regionalizar um espaço de diversas formas. Um exemplo disso é o Brasil que apresenta pelo menos três regionalizações, como a de cinco regiões do IBGE, a geoeconômica, de Pedro Pinchas Geiger e a quatro brasis, de Milton Santos.
Paisagem
É o espaço cujos elementos são percebidos pelos sentidos, ou seja, pode-se descrever uma paisagem através da visão, se ela é agradável ou não, pelo tato se faz calor ou frio, pela audição, se é silencioso ou barulhento.
As paisagens são, naturalmente, dinâmicas, porém a humanidade constrói e transforma paisagens desde seus primórdios. Grandes migrações promoveram intercâmbios de sementes, de plantas, de hábitos, de animais, de culturas. Grandes civilizações tomaram grandes espaços geográficos.
As transformações nas paisagens acontecem o tempo todo, todavia é possível que alguns elementos permaneçam. Casas, edifícios, costumes antigos ainda existem e carregam consigo todas suas histórias. Esse fenômeno foi denominado, por Milton Santos, de rugosidade.
Na Geografia, existem dois tipos de paisagens. Na paisagem natural predomina elementos naturais, como uma praia deserta, o alto de uma montanha, uma floresta preservada. Já na paisagem humanizada, cultural ou antrópica tem predomínio de elementos construídos pelos homens, como um bairro, um aterro sanitário, um parque industrial.
Princípios da Geografia
Raciocínio geográfico significa entender o mundo, a vida e o cotidiano. Para chegar ao raciocínio geográfico é preciso descobrir, em cada fenômeno geográfico, os princípios da Geografia. Os princípios são:
Localização
Os fenômenos geográficos são localizados no espaço geográfico. Exemplo: enchentes no Rio Grande do Sul, em novembro de 2023.
Extensão
Delimitação do espaço do fenômeno geográfico; a área de abrangência do acontecimento. Exemplos: 179 municípios do Rio Grande do Sul foram atingidos pelas enchentes.
Causalidade
Causa e o efeito do fenômeno geográfico. Exemplo: chuvas excessivas elevaram os volumes dos rios da região.
Atividade
Por ter os fenômenos geográficos um caráter dinâmico, mutável, demanda conhecimento do passado para a compreensão do presente e previsão do futuro. Exemplo: as cidades gaúchas foram construídas próximas de rios em uma época que o clima era mais equilibrado e não havia grandes enchentes.
Distribuição
Os fenômenos geográficos se distribuem (alastram) no espaço conforme determinadas lógicas ou causas. É como o homem ocupa o espaço geográfico. Exemplo: é comum o homem fixar-se em planícies próximas de rios.
Conexidade
É a ligação entre os fenômenos geográficos. Exemplo: O aquecimento global (fenômeno 01) provoca chuva excessiva (fenômeno 02) que, por sua vez, provoca enchente (fenômeno 03).
Analogia
Comparar fenômenos geográficos iguais para analisar semelhanças e diferenças. Comparar do local para o global e vice-versa. Fenômenos geográficos que ocorrem em áreas diferentes, mas podem possuir características comuns. Tipo de comparação. Exemplo: Ocorreram, também, enchentes no Rio de Janeiro, em janeiro de 2024.
Diferenciação
As diferenças entre fenômenos geográficos resultam na diferenciação das áreas. Exemplo: as enchentes do Rio de Janeiro atingiram mais pessoas do que no Rio Grande do Sul.
Ordem ou arranjo espacial
O fenômeno geográfico ocupa o espaço por causa de uma questão política, natural ou social. Refere-se ao modo de estrutura do espaço de acordo com as regras da própria sociedade. O porquê aquele fenômeno geográfico aconteceu ou foi estruturado daquele jeito. Interesse humano. Exemplo: Os governantes não fazem obras para conter as enchentes (questão política).
